domingo, 23 de agosto de 2009

Górgias, Elogio de Helena

Motivado por leituras correntes, transcrevo trecho de uma tradução do texto.

O central: o discurso, a retórica e a linguagem.

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Se foi o discurso que o persuadiu e enganou a alma, nem diante disso é difícil fazer a defesa e desfazer a acusação, assim: o discurso é um grande soberano, que com o mais diminuto e inaparente corpo as mais divinas obras executa; pois ele pode cessar o medo, arrancar a tristeza, suscitar a alegria e aumentar a compaixão. E isto como é que se dá eu mostrarei: é preciso também por opinião mostrar aos ouvintes: toda poesia eu considero e denomino um discurso que tem metro: nos que a escutam penetra um calafrio de terror, uma compaixão lacrimosa, um pesar comprazido; e diante das ações e dos corpos alheios, com boa sorte e os reveses, um sofrimento que é próprio, por meio das palavras, a alma sofre. Ora vamos! Que eu mude de um discurso para o outro. Os encantamentos inspirados divinamente, por meio das palavras, movem o prazer, removem a dor; conformando-se com a opinião da alma, o poder do encantamento a seduz, persuade e transforma essa alma pelo enfeitiçamento. De enfeitiçamento e magia duas técnicas se encontraram, que são erros da alma e ilusões da opinião. Quanto a quantos persuadiram e persuadem, sobre quanta coisa, um falso discurso modelando! Se com efeito sobre todas as coisas todos tivessem memória das passadas < visões >, das presentes e previsão das futuras, não seria semelhante o discurso para aqueles aos quais agora, o discurso enganaria. De fato porém, nem para recordar o passado, nem para examinar o presente, nem para adivinhar o futuro tem bom caminho; de maneira que, sobre o maior número de casos a maioria tem a opinião como conselheira presente da alma. Mas a opinião, escorregadia e instável, em escorregadios e instáveis desencontros arremessa os que dela se servem. Então, que causa impede que também a Helena hinos tenham encantado semelhantemente, embora não sendo jovem, como se por força dos violentos tivesse sido raptada? O efeito da persuasão domina, mas a mente, embora não tenha a forma da necessidade, tem o mesmo poder. Pois o discurso que persuadiu a alma, a que ela persuadiu, força-a a se confiar no que é dito e a aprovar o que é feito. Quem portanto persuade, pelo fato de forçar, comete injustiça, mas a alma persuadida, enquanto forçada pelo discurso, sem razão tem má reputação. Que a persuasão, associando-se ao discurso, forja a alma como quer, deve-se primeiro aprender os discursos dos meteorologistas, os quais, opinião contra opinião, ora tirando uma, ora suscitando outra, fazem que o incrível e obscuro se evidenciem aos olhos da opinião; em segundo lugar, os inevitáveis debates, por meio dos discursos, nos quais um só discurso muita gente deleita e persuade, com técnica é escrito, não com verdade proferido; em terceiro lugar, as disputas de discursos filosóficos, nas quais se mostra inclusive a rapidez do pensar, que faz mutável a crença da opinião. A mesma palavra tem o poder do discurso perante a disposição da alma e a disposição dos remédios para a natureza dos corpos. Com efeito, como os diferentes remédios expulsam diferentes humores do corpo, e uns cessam a doença, outros a vida, assim os discursos, uns afligem, outros deleitam, outros atemorizam, outros dispõem os ouvintes à confiança, e outros por meio de uma persuasão maligna envenenam e enfeitiçam a alma.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Fernando Gil, crença e alucinação

Da obra "A Convicção":

“A crença no real não é uma ilusão mas é alucinatória. Nós cremos no mundo e no eu sem esperar justificação nem confirmação, a aparente auto-suficiência da sua realidade dispensa verificação.”

domingo, 10 de maio de 2009

Arquitetura da Destruição

Uma obra prima de Peter Cohen.

Atenção especial à dimensão "estética" do nazismo.

Segue a primeira parte do documentário (em inglês)


Abaixo, outra versão mais "enxuta" (essa com legenda).



*Há uma edição recente em DVD no Brasil. É da USA Filmes, o volume 15 da Coleção II Guerra Mundial. Bom preço.